27.9.12

Poesia: Amor de elevador

amor de elevador
elevador
Encontrei meu amor.

No elevador.

Subindo, descendo,
apertando botões.

Saindo apressado
pelos corredores.

Olhares furtivos, desculpas.

Um oi, um sorriso.
Um belo narciso.

Que não me vê.

Preciso.
Preciso de seu amor.

Preciso.

Precioso.

Lindo, belo.

Como só ele poderia ser.

Lindo, jeitoso, bonito, amável.

Como ele sempre deveria ser ...
ou como não sei se ele realmente é ...

Mas como ele é?

Ah, não sei.

Só sei que preciso dele.

Ai, como eu preciso ...




Encontrei meu amor.

No elevador.

Mas ele não sabe que eu existo.
Nem que eu sou o amor dele.






Ainda não.

Ai, ai ...

fps, 27/09, 16:27

21.9.12

Celso Russomanno, a volta das sacolinhas e a prioridade do eleitor

 

Todo mundo conhece uma sacolinha plástica, ou a falta que ela faz.

Principalmente a dona-de-casa, que geralmente é a responsável pelas compras da família e que mais sofria quando, numa triunfante medida, o Ministério Público e a APAS concordaram em retirar esse atentado ao meio-ambiente dos supermercados, obrigando os consumidores a levar as compras das piores maneiras possíveis.

Na mão. Em caixas.

Nas “sacolinhas recicláveis”, que todo mundo esquecia.

Ou (suprema ironia) comprando as mesmas sacolinhas de plástico, que antes eram fornecidas “de graça”, enquanto lia aquela simpática mensagem, que ainda está estampada em muitos caixas de mercados, ricos e pobres, por aí.

Dizendo: “Chega de poluir o ambiente”.

E ruminando, com raiva, que aquela sacolinha, que ela reutilizava como saco de lixo, poupando o meio-ambiente, era muito útil para o cidadão.

E que, por isso, não devia ter sido abandonada, pelos supermercados, que, afinal de contas, também cobravam pela sacolinha.

Não, não mesmo. A sacolinha tinha que voltar.

E, como sabemos, voltou.

Graças, entre outras coisas, a um prosaico movimento chamado “Volta Sacolinha”, liderado pelo instituto do consumidor bancado por Celso Russomanno.

,,,

Pode ser que você discorde, e ache que o colega do “bom para ambas as partes” seja a reencarnação do janismo, pincelada com toques malufistas, como o Vinicius Duarte afirma no seu blog.

Pode ser que você ache que ele é uma novidade interessante, como André Forastieri cita em seu blog, a partir das entrevistas com Boris Fausto e Vladmir Safatle.

Você pode, aliás, até lamentar, como Eliane Brum, que declara, sem sombra de dúvidas, que “se a maioria acredita que tudo o que dá sentido a uma vida humana pode ser comprado num shopping, então São Paulo – e o Brasil – merecem Celso Russomanno.”

Mas não pode negar que o eleitor, aquele que paga impostos e usufrui dos serviços do Estado, merece que tais serviços funcionem de forma eficiente, que tenham resultados efetivos e que entreguem aquilo que prometem ao seu “cliente”.

Que paga pelo serviço, e quer exatamente aquilo que prometeram.

Nem mais, nem menos.

Aliás, ele detesta invenções, e não quer saber qual é a última moda sustentável em Paris ou Londres, ou que em Nova York um dos “Minhocões” da cidade foi transformado em parque suspenso.

Até porque ele não vive em Paris, nem em Londres, e em New York provavelmente eles tem transporte público de sobra para transformar um viaduto em “bobagem”.

O texto exagera, eu sei; mas é assim que o eleitor vê as coisas, de forma minimalista.

E foi justamente Russomanno que viu o óbvio: que o eleitor de São Paulo, assim como Diógenes diante de Alexandre, deseja, apenas, que não lhe tirem a luz.

Ou a sacolinha.

17.9.12

Poesia

 

meio-exílio ii

 

do exílio, longe de todos,

solitário, quieto, pensativo,

teria tudo para estar triste.

 

mas, ainda assim,

me sinto bem.

 

afinal,

não sou filho de lagartixa,

que ao rés do chão anda.

 

meu habitat é o ar,

no qual pássaros me chamam

para com eles estar;

 

a terra inóspita,

o fundo do mar bravio,

a lama, o asfalto,

 

e todo lugar onde o desafio me aguarde.

 

porque não há onde ficar isolado,

mesmo nesse exílio.

 

e não se isola quem quieto pensa,

e age, e responde, e vence.

 

e sorri.

 

do exílio, longe de todos,

estou feliz comigo mesmo.

 

fps, 07/06/2011

16.9.12

Automobilismo e desafio intermodal (ou “a eterna discussão, mais uma vez, sobre o futuro que não chega”)

 

vazio1int

Sábado, 15 de setembro.

A fina flor do automobilismo de competição em Interlagos.

Num evento divulgado à exaustão por Emerson Fittipaldi, que até se propôs a comentar GP ao lado de Galvão e cia. ltda. para promover o espetáculo.

Colírio para quem gosta de carros, “como todo brasileiro”.

E, no dia … autódromo vazio, com carros magníficos correndo para absolutamente ninguém, como relata Flávio Gomes em seu blog (de onde, aliás, a foto acima foi tirada).

….

Dá para entender a raiva de quem vê um evento como as 6 horas de Interlagos sendo desprezado pelo público em geral. E isso acontece principalmente porque aqueles que gostam de boas corridas se iludem, acreditando na propaganda do posto de gasolina que vende de tudo, até combustível, aos que “gostam de carro”, supostamente todo brasileiro.

Ora, vamos falar a verdade, brasileiro nunca gostou de automobilismo de verdade, e nem dá para dize que gosta de carro.

Brasileiro gosta do status que o automóvel fornece a quem o compra, ainda que seja uma porcaria comparado com seus similares europeus, mas, tirando a Formula 1 e a Indy, não está nem aí para as categorias nas quais um brasileiro não esteja correndo com chances de vitória.

Brasileiro gosta mesmo é da pachecada, de “secar”, de ridicularizar o outro quando perde; brasileiro gosta é de “Brasil-sil-sil”, de inventar desculpa para quando perde jogo, de procurar culpados e desvalorizar profissionais quando eles perdem.

Como fez com Rubinho. Como faz com Massa.

E como faz com qualquer um que não seja “bom” o suficiente para defender o país lá fora, segundo o “patriota de sofá”.

dia-mundial-sem-carro1

Enquanto isso, mais uma vez, os cicloativistas tentam justificar o injustificável …

Francamente, não queria estar na pele de quem tem que defender o carro num desafio intermodal, que é o pior lugar do mundo para se estar motorizado. Aliás, tais eventos são bonitos de se ver, bicicleta ganhando de todo mundo e cortando caminho por onde só pessoas passam, enquanto os carros respeitam todo tipo de sinalização.

Não é possível, contudo, que não se perceba que num trânsito engarrafado o automóvel perde de todos os outros meios porque a rua está lotada, e a calçada, vazia. Simples assim, não precisa fazer muito esforço para perceber esse “pequeno detalhe”.

Até porque, para muitos, carro é necessidade.

E, taí, gostaria de saber se há algum meio de desafio intermodal que envolva situações reais, que não sejam simplesmente levar as pessoas do ponto A para o ponto B com rapidez e sem gastos ambientais.

Como, por exemplo, levar os filhos à escola, ou as compras “de mês” do supermercado para casa. Ou, ainda, sair de manhã para trabalhar num escritório, de terno e gravata, encarando a poluição e o suor inevitável de quem encara o calor senegalesco da São Paulo seca.

Ou, melhor ainda, exigir que os participantes de bike usassem roupa social e se locomovessem numa BarraForte de uma marcha, como tanta gente pobre que vai de um lado a outro de bike por necessidade, e não porque está construindo um mundo melhor.

Porque para essa gente, os pobres da Barra Circular, “mundo melhor” é comida na mesa e dinheiro no bolso; gente que, aliás, tem muitas vezes só um objeto de desejo.

Ter um carrinho, de qualquer tipo e motor, e sair da vida dura de metrô lotado e condução apertada.

A tal ponto que, quando recebe a chave do seu “demônio”, chora …

Tem gente que acha que estão salvando o mundo com suas escolhas, mas elas não tem mais o que fazer a não ser sonhar com utopias; outros, por sua vez, precisam garantir sua sobrevivência e não tem tempo para pensar em “frescura”.

Os primeiros, parte da classe AB, tem força na internet e fazem todo um auê em cima de um futuro que não chegará tão cedo.

Os segundos, bem, os segundos são aqueles que com seus mínimos salários estão segurando a economia, mantendo o consumo de pé.

A tão desprezada classe C …