28.9.10

Como votar bem para deputado nessa eleição

Eleições vão e vem, discussões e mais discussões extensas sobre reforma política e dos costumes ocorrem sempre mas ninguém se preocupa em dizer como é que vamos melhorar os costumes políticos sob o sistema eleitoral que aí está, já que, para decepção dos analistas políticos, a lista fechada proporcional continua sendo a forma de se distribuir as cadeiras nos Legislativos país afora.

Pior: não há nenhuma perspectiva de mudanças nesse sistema, seja porque não há interesse dos nossos representantes na mudança (explicação das revistas) ou porque o eleitor tem mais o que fazer do que ficar discutindo sobre assuntos cansativos que, aparentemente, não lhe dizem respeito algum (explicação mais próxima da realidade).

Logo, considerando-se o fato de que votaremos nesse sistema e que não adianta ficar discutindo sobre reformas inexistentes, ou inviáveis, esse blogueiro pergunta: alguém já se perguntou qual a melhor forma de votar em um deputado nas eleições que estão chegando?

Não, com certeza você não se perguntou sobre isso, até porque o brasileiro se orgulha de não ser politizado e o assunto “como elegemos nossos políticos” nunca faz parte da pauta das reuniões familiares e dos jantares de gala de uma sociedade que cita Bertold Brecht mas nem sabe quem ele foi.

Contudo, como esse blogueiro gosta de dar sua opinião sobre tudo o que o cerca, aqui vai uma série de sugestões de como votar para deputado, independente da preferência política de quem está nos lendo agora:

  1. Escolha um candidato e não vote somente no partido: votar na legenda significa concordar que qualquer membro do partido serve para ser seu representante no parlamento; como em todos os partidos políticos há o candidato “bom” e o candidato “mau”, e muita gente tende a votar no “mau” político justificando o que ele faz ou deixa de fazer, cabendo a você, eleitor esclarecido, colocar os bons no topo da lista e jogar os maus para o fim da fila - e para fora da carreira política, corrigindo os erros que nem um Ficha Limpa poderia corrigir no futuro.
  2. Prefira escolher seu candidato a presidente ou governador e, depois, o candidato a deputado dentre os partidos que o apóiam: não entre nessa de dizer que “ele / ela não pode ter vida fácil” porque sem apoio o governo precisará fazer mais e mais acordos para se manter, aumentando o preço per capita das alianças necessárias para aprovar as Leis e o Orçamento (que, lembrando, só é aprovado se o Legisiativo der o seu OK).
  3. Se você votar em branco, não fique reclamando depois dos políticos: votar em branco ou em nulo de propósito significa dizer que qualquer um serve para ser seu representante, até mesmo o Tiririca; e geralmente quem mais reclama dos políticos é quem fez o que não devia, ou seja, se omitiu na hora do voto dizendo que “é tudo igual, mesmo”.
  4. Mas, principalmente, vote em quem você gostaria de ver defendendo seus interesses no Legislativo: o melhor voto é aquele que se dá com satisfação, e que você dá consciente de que fez a escolha que vai de acordo à sua visão de mundo (que é o que interessa mesmo nessa hora).

E mais uma coisa: se seu candidato não for eleito, cobre do partido, já que o seu voto vai ajudar a eleger o resto da “chapa” de candidatos do partido X ou Y ou Z; ou cobre de outros parlamentares do seu Estado, já que, um dia, eles terão de pedir votos novamente se quiserem se reeleger.

Mas cobre; porque eles é quem dependem de nós, e não o contrário.

27.9.10

Poesia

estatuas

a cegueira nos torna em pedra

a pedra nos torna em pó

pó, poeira, pedregulho,

que só serve para fazer tijolo,

daquele baiano.

 

mas ao menos do tijolo baiano se fazem casas e prédios.

que bom.

 

fps, 26/09/2010, 15:19

26.9.10

Uma lição contra o “classe média way of life”, e um comentário a respeito

Idelber Avelar conta-nos uma história que realmente mostra, na sua simplicidade, quanto os brasileiros de classe média conseguem ter preconceitos, seja à direita ou à esquerda do espectro político. Em seu relato, que pode ser lido, pela ordem, aqui, aqui e aqui, uma família tipicamente da classe B recebe uma lição quanto à soberba contra uma outra família, emergente da classe C que ganhou poder e prestígio na era Lula, mas que ainda é vista com muitos preconceitos por “não ter estudado” e “não saber falar inglês”, entre outras pataquadas que os remediados repetem para desfilar seu ódio contra o petismo lulista e tudo aquilo que ele tem representado na sociedade de hoje.

Nesse caso esse blogueiro se reserva a copiar, sem tirar nem pôr, o comentário que escreveu no blog “O Biscoito Fino e a Massa”:

Idelber, gosto da sua visão de mundo mas nessa atitude há uma situação maravilhosa e uma nojenta: é realmente impressionante ver como o brasileiro de classe média "B", herdeiro das famílias de migrantes que trabalharam para que os filhos estudassem, baixa a cabeça diante do estrangeiro, numa atitude de colonizado bem típica do "classe média way of life" que tem sido ensinado geração após geração a esse pessoal de cabeça (tão) pequena.

Contudo, ao qualificá-los como racistas, xenófobos e escória, você (e qualquer um que aqui está) incorre no erro oposto, o de achar que toda e qualquer situação se explica pela luta de classes, e de que essas pessoas deveriam ser defendidas de alguma coisa. Ora, a classe C que você defende está em Miami porque ela aspira justamente a ser a classe B que discrimina porque acha que seu conhecimento vale alguma coisa; eu sei, pode ser que essa postura do "socialismo classe-média" tenha até valido a pena, mas tenho muitas controvérsias se alcançou algum objetivo a não ser fazer com que você se sentisse vingado pela eterna briga da luta de classes no Brasil.

Afinal, a atual classe B (justamente a que mais dá nojo) é filha dos imigrantes que aspiravam chegar a ser uma elite; e foi justamente por entender que a classe C queria chegar a ser B que Lula venceu duas eleições e que Dilma será a primeira mulher presidente desse país.

22.9.10

Poesia



Boteco nº 2
Ode às mesas vazias

Mesas arrumadas,
cadeiras a postos,
mas ninguém por aqui.

Tudo bonitinho demais para o meu gosto.

E cadê o pessoal?

Foi todo mundo ver o jogo?

Xi ... então sou eu que estou no lugar errado ...



fps, 01/08/2010, 02:00

19.9.10

Prosa

O dia em que eu chorei
(Homenagem a um grande amigo meu, que se foi)
Conheci Rovângelo há muito tempo atrás.
Cinco, seis, sete anos ... não importa.
O que importa era o tipo de pessoa que ele era: moreno, não muito alto nem muito baixo, de porte mediano, óculos - enfim, nada que lembrasse o tipo atlético, alto, forte e bonitão que povoa as revistas femininas, como exaltação do chamado "homem ideal" (muito músculo e pouco cérebro).
Aliás, dir-se-ia até que ele não era grande coisa assim, já que sua voz, meio esquisita, surda e estridente, anunciava um tipo de pessoa que não se vê muito nos dias de hoje: bonachão, carinhoso, sensível, às vezes até emotivo, mas com um certo traço de "charm", que as pessoas hoje parecem esquecer, nesses tempos corridos em que a dureza dos atos substitui a beleza da vida - não sem tristeza, nem mesmo sem dor.
Mas, como eu ia dizendo, conheci-o no colégio, por assim dizer no ginásio, que é, por definição, a época em que os espíritos se abrem, desabrochando em todos a personalidade que talvez terão em vida - ou, pelo menos, em sua juventude.
Era uma época que via surgir gente bonita, sedosa e cheirosa, alguns mais "zoeiros", outros nem tanto, e outros que nem sabem o que significa isso: os chamados "bitolados", ou "bitolas", para os quais o melhor companheiro é o livro, e a obrigação número um é passar de ano - e era nesses que eu me classificava, à base de TV de manhã, ônibus lotado à tarde e o carro do pai que vinha me buscar de noite, tudo ao mesmo tempo, sem contestação.
Nesses tempos, onde o que importava p´ra mim era ser um bom aluno, surgiam outros, raros como eu, que faziam valer os centavos que os pais investiam, ainda que custasse menos ser irresponsável e idiota - como tantas donas de butique de hoje já foram um dia.
No entanto, isso não importa mais, já que o velho e bom amigo Rovângelo, aquele cara que falava fino, aquele que parecia "delicado", aquele mesmo que um dia jurara namorar a professora de Educação Artística - nossa "professora Helena" dos tempos de ginásio - aquele cara com um jeito todo especial de ser, e de cativar, que só ele tem ... tinha, pois morreu há poucos dias atrás, vítima do imponderável e do impensável que circula, todo dia, entre nós.
Como estaria ele hoje ? Voz diferente ?
Estaria mais alto ?
Mais gordo, talvez ?
Não sei, não posso explicar, pois não cheguei a vê-lo de novo.
A única coisa que sei - e que pude lembrar, quando soube da notícia - foi da última vez que nos vimos, na nossa formatura, quando o abracei e tiramos uma foto lá dentro do colégio.
Foi a última foto que tirei com qualquer pessoa que conheci no ginásio, e foi por isso que, quando lembrei-me do fato, ao voltar para casa, tendo a consciência de que uma parte de mim havia também ido, uma boa parte, dos bons tempos em que podia viver e sonhar, tornando se homem nas esquinas da vida, e do quanto ela havia sido boa , e do amigo que eu tinha perdido ali ...
... foi aí que, sem nada p´ra dizer, simplesmente chorei.
fps, 31/05/96, 15:44

17.9.10

#Talibikers, SUV´s e a higienização da metrópole: porque nem tudo nesse mundo é #política

talibikeUma das atividades que agrada bastante a esse blogueiro é ver as discussões sobre mobilidade urbana nas grandes cidades que tomam corpo na internet, esse verdadeiro mundão digital onde é fácil encontrar quem tenha posturas como as suas e formar verdadeiros partidos politicos a respeito de pequenos assuntos do dia-a-dia.

É, por exemplo, o que ocorre com os cicloativistas e sua postura radical a respeito de qualquer assunto que envolva mobilidade sustentável, como o que ocorreu na discussão entre Barbara Gancia e Renata Falzoni, em que pela primeira vez se cunhou o termo "talibiker" para defiir o cicloativista chato que não respeita regras de convivência ou legislação de trãnsito e que pensa que a rua é de propriedade exclusiva dos que estão destinados a salvar o mundo suando em suas bicicletas diariamente – ainda que isso signifique arriscar a sua vida e desrespeitar as leis de tráfego.

Que eles não desejam saber que também regulamenta o tráfego de bicicletas por vias públicas, diga-se de passagem.

Descartado toda a choradeira de cada uma das partes, o fato é que ninguém ganha com esse tipo de discussão, principalmente a tribo de bicicleteiros que conseguiu iniciativas isoladas mas que não teve tanto êxito em sensibilizar a Prefeitura e a CET para inverter a lógica da "carrocracia" que domina a sociedade do século XXI; talvez porque o verdadeiro inimigo desses bicicleteiros esteja em outro ponto, na ilusão de ótica que faz com que alguém ache que um SUV filmado é extremamente seguro para seus ocupantes, ainda mais se estiver devidamente blindado.

Como se a blindagem resolvesse alguma coisa quando rendem os ocupantes do carro antes de chegarem até ele.

E tem algum espaço, na cidade de São Paulo, que não esteja sendo transformado de espaço público em "ponto de passagem" para os cidadãos amedrontados da metrópole? Higienização da Praça Roosevelt e da República, rampas antimendigos que afastam o indigente E O CIDADÃO da paisagem, num absurdo que faz esse blogueiro pensar se não seria melhor mandar logo tudo para o inferno, abrir a Barão de Itapetininga para os carros, fazendo um "rasgo" na Praça da República e ligando o Arouche diretamente à Praça da Sé via Viaduto do Chá.
 
Poderíamos também aproveitar para "reasfaltar" o Viaduto Santa Ifigênia, ligando aquela região à Líbero Badaró e poupando os carros de dar uma volta imensa na região para chegar ao centro financeiro, que poderia ter seus calçadões derrubados para evitar que os farrapos humanos sujem mais ainda a paisagem dos engravatados que andam por lá todo dia.
 
Crueldade? Sim, com certeza.
 
Mas, se é para entregar logo SP aos carros, que façam isso logo para que não tenhamos que perder mais a paciência fingindo que queremos uma cidade melhor, para nós e nossos filhos; só gostaria que abrissem mais dois shoppings no Centro, de preferência no Mappin e na Mesbla, porque vai ser a única coisa que vai prestar de fato depois que toda essa "urbanização" terminar.
 
Andar dentro dos casulos, em que nos enterramos, dia após dia.
 
 
E, antes que me esqueça: a moto ganhou o último desafio intermodal, os bikers dizem que foram os vencedores no custo-benefício para o planeta, mas eu ainda acho melhor fazer a medição de suor dos participantes antes e depois de eventos como esse.
 
Já que o SUV só consegue ganhar mesmo na categoria que mais interessa à classe média, a do “chegar limpinho e arrumadinho em casa”.

Revelação contundente: Dilma Roussef é a candidata do demônio !!!

Se você é evangélico ou religioso e acredita nisso, me desculpe, mas está assinando um tremendo atestado de burrice.

Explico: José Serra contrata guru indiano para refazer seu site oficial, não dá um passo sem consultar a Fundação Cacique Cobra Coral (que muitos políticos reverenciam como capaz até de fazer chover e que tem como inspirador um caboclo que dizem ter sido Lincoln!) e nem sai de casa sem ver o que seu astrólogo particular diz.

Mas quem vai fechar Igrejas e oficializar o ateísmo no Brasil é a Dilma.

FHC declarou-se ateu e negou isso depois para ser presidente, pediu para esquecer o que escreveu no passado e cuspiu no seu passado ateísta para governar o país por 8 anos; no entanto, no entender dos evangelistas radicais, quem vai fechar Igrejas é o Lula, católico do tipo que faz festa junina para pagar promessa por graça alcançada (e que é grato a Deus e a seus santos por isso, independente de se gostar ou não da aplicação de sua fé).

Grande parte das posições políticas do que se tornou o PSDB e a oposição é baseada em teses como o objetivismo, que acima de tudo prega um conservadorismo egoísta baseado sobretudo no ateísmo e no feminismo mais hipócrita; contudo s cristãos brasileiros reclamam justamente do PT, onde discussões sobre temas como aborto e cotas foram discutidas a fundo dentro de um contexto democrático e progressista - e discutido abertamente, ao contrário de muito lugar onde se abaixa a cabeça para qualquer opinião, como as igrejas de muitos picaretas de títulos pomposos que praticamente impõem candidatos a seus membros.

E que elegerão seus representantes, pois o melhor curral eleitoral sempre foi o que está no bolso do missionário ou do apóstolo ou patriarca ou bispo-primaz de plantão – e depois reclamam que evangélico é bobo e Igreja evangélica é lugar de gente inculta … também, que dizer de quem aplaudia os militares enquanto bispos e padres lutavam para que o Brasil fosse de fato uma democracia?

15.9.10

11.9.10

Sua Excelência, o deputado Tiririca

Cerveja, cookies, leite e os beijos da musa fariam qualquer um despertar do sono letárgico da poesia e escrever sobre alguma coisa; ainda mais quando fermenta na cabeça a notícia de que estão tentando achar qualquer motivo que possa cassar a candidatura de um milhão de votos do Tiririca a deputado federal.

Descartando o fato de que se o TSE questionar a declaração de bens do humorista deveria fazer o mesmo com toda a gente que colocam o que possuem no nome dos filhos para não pagar imposto, o fato é que querem tirar o palhaço da jogada porque acreditam que o “tiririquismo” é o cúmulo das vergonhas realizadas por um sistema político-eleitoral que já nos enfiou Clodovil e Frank Aguiar em eleições passadas, e que não deveria existir numa democracia que se leve a sério.

E esse blogueiro concorda em parte com essa afirmação, desde que o explicassem o que não parece óbvio: o que, para esses cidadãos, é uma democracia “séria”?

Talvez democracia séria seja aquela em que os distritos sejam divididos arbitrariamente pelos governadores de Estado, como é naquela democracia bicentenária chamada Estados Unidos da América, e que gera um fenômeno chamado pelos estudiosos de “gerrymandering”, que constitui simplesmente em dividir os distritos de tal forma que sempre os seus deputados ganhem as eleições, porque a lei permite assim.

Ou, se não for sério demais, poderíamos pegar o exemplo de Israel, que fez uma reforma política que bagunçou tanto o coreto que tiveram que voltar ao modelo antigo, pois o país tornou-se ingovernável numa situação pior que a brasileira.

Ou, se quiser, da Itália … não, não, essa elegeu Berlusconi … deixe isso pra lá, não vai dar para explicar o que é um sistema político-eleitoral perfeito desse jeito …

Francamente, já passou da hora de entendermos que o sistema eleitoral brasileiro funciona de tal forma que os candidatos são eleitos em parte por representar seus partidos políticos (ou coligações) e, na sua maior parte, porque representam grupos corporativos ou regiões que votam em peso para eleger quem as defenda.

Ou seja, para desgosto dos nossos cientistas políticos, eleitores votam para defender seus interesses, não o bem comum de uma sociedade ideal; até porque cada um tem a sua visão de mundo, que é colocada sempre em colisão quando se está numa democracia – como é, aliás, o caso brasileiro.

Nesse contexto Tiririca é uma exceção, pois uma pessoa conhecida pode realmente ter tantos votos que leve duas ou três pessoas com ele para o Congresso, até porque ele está lá para isso, chamar a atenção para si, fazer o povo votar nele e conduzir outros com o “voto de protesto útil” do que diz que “pior que tá, não fica”.

Mas é direito dele, como de qualquer cidadão, votar e ser votado para representar os brasileiros que o elegeram, ainda que muita gente não goste disso, pois é assim num sistema eleitoral em que se vota mais em gente do que nas idéias que elas carregam consigo; a única alternativa ideal para “resolver” esse problema seria aprovar de vez a lista fechada para as eleições e dizer que o partido é que deve colocar seus “especialistas” para representar as idéias da instituição no Legislativo.

Contudo, pesquisas recentes mostraram que 70% da população rejeita esse tipo de voto, que inclusive foi vetado pelo Congresso, o que mostra que temos que nos preparar mesmo para chamar muito mais Tiriricas por aí de “sua excelência” …

9.9.10

Prosa amorosa

Quando dois olhares se cruzam

Nunca deixarei de esquecer o sentido dos olhares que se cruzam por entre os cantos de nossas vidas, pois eles dizem muito a nós mesmos, e a nossos sofridos corações.

Quando dois olhares se cruzam, a vida corre da melhor maneira possível, sejam eles olhares firmes, felizes, sofridos ou agoniados, bem-dispostos ou cansados, mas olhares enfim.

Quando dois olhares se cruzam, a vida parece parar, o tempo também pára, e dá vontade apenas de contemplar o olhar do outro, magnífico olhar que traduz um sentimento forte, limpo e translúcido como água correndo de uma nascente, ou fogo ardendo na lareira dos corações de quem se olha desse jeito.

Quando dois olhares se cruzam, parece que o mundo não existe mais, pois foi tragado pelo simples fato de que alguém olha para nós, e nos vê, e sente nosso interior pulsando, firme e forte, diante da presença desse olhar.

Talvez dois olhares cruzando-se não signifiquem nada. Para mim, significam tudo.

Porque, quando dois olhares se cruzam, existe um sentimento forte unindo esses olhares, e essas vidas.

Um sentimento de felicidade, amor, carinho e paz.

Um sentimento que passa acima dos corações humanos para entrar dentro das almas e espíritos daqueles que se olham.

Um sentimento de força e afeto, que une dois olhares em um só.

Quando dois olhares se cruzam, os sentimentos são infinitos.

E é por causa desses olhares - e do poder que eles tem em nossas vidas - que eu ainda confio, e muito, nesse doce sentimento que é chamado por muitos de amor, mas que somente pode se exprimir de verdade, não quando duas bocas se falam, ou quando dois corpos se unem, mas quando dois olhares se cruzam, se unem e se fundem para formar apenas um.

 

fps, sem data definida

7.9.10

Evangélicos e gays: o que deveria nos unir e o que sempre nos divide

O caso do evangélico preso no Egito com Bíblias tem rendido até agora ótimas discussões entre o autor desse blog e o “Angry Brazilian” Raphael Tsavkko, que escreveu um contundente post criticando a atitude do missionário.

Tais comentários renderam um comentário sobre o assunto aqui no TrashEtc, e sua resposta, que estão publicados também no blog do brasileiro nervoso, lado a lado, o que mostra que discussões podem ser mantidas mesmo entre os opostos mais ferrenhos, desde que hajam argumentos inteligentes e respeito entre os que se propõem a agir como “debatedores” de fato, e não como os “trolls” que pulam internet afora.

De forma surpreendente, contudo, não se fala a respeito de um assunto fundamental, que deveria unir evangélicos, homossexuais e todos aqueles que defendem um ponto de vista diferente do comum na sociedade: a defesa dos direitos individuais, expressas de forma eficiente e concisa no artigo 5º da Constituição Federal.

Os evangélicos que se metem nas discussões sobre proselitismo religioso, homofobia, heterofobia e outros clichês do gênero devem estar esquecidos de que a liberdade religiosa no Brasil só veio com a República, e que nosso país, apesar de todos os esforços, ainda é uma nação católica ao extremo - tanto é assim que nunca vi beijo gay em novela da Globo, mas também não vi casamento em Igreja evangélica “global”.

Mais do que isso, nunca vi evangélico criticando de forma violenta a Globo por não falar de protestantes nas novelas a não ser pelos estereótipos de praxe (clique aqui se quiser ver alguns deles, entre eles o fato de pobre nunca repetir roupa).

Os homossexuais e simpatizantes tem também sua parcela de culpa: está certo, homofobia é horrendo, mas não é por isso que alguém tem o direito de querer que os outros gostem do “mundo gay” à força. O evangélico, na verdade, quer ter o direito de dizer ao seu filho que isso é errado, que Deus não gosta e pune os gays, e não acha que “toda forma de amar seja válida”.

Ou seja, quer ter o direito de ser e agir como seu Deus quer que ele aja: talvez existam exageros, mas a única coisa que um evangélico deveria desejar, na verdade, é ser feliz, amar e respeitar o seu Deus, da forma que ele acha correto.

E, claro, não se sentir constrangido por isso.

Seria redundante demais escrever a respeito desses assuntos, e além disso esse espaço da internet não foi criado para falar somente de polêmicas religiosas; deixo-vos, assim, com um especialista em assuntos polêmicos no evangelismo, Caio Fábio.

Clique aqui para ler sua posição a respeito da PL 122 e aqui para ver a polêmica ocorrida quando seu filho se casou com um pastor – e, em tempo eu não comi artigo nenhum dessa frase, ele contraiu matrimônio com UM pastor mesmo, no religioso.

O que já é assunto para outra longa discussão.

5.9.10

Do colega Enrique, do Boteco do Balaio, um poema maravilhoso

Bobo procura boba


Quero uma boba que goste de ficar
assim, quietinha, bobamente,
comigo de mãos dadas,
como era costume antigamente.

Quero uma boba que goste de um "papo"
bem bobo, sobre tudo, sobre nada,
noite adentro,
até o raiar da madrugada.

Quero uma boba que esqueça, de bom grado,
um monte de problemas,
só para curtir um bobo
céu estrelado.

Quero uma boba sem compartimento
estanque, onde isole o sentimento
de por à solta a Feroz Razão,
pondo também, assim, em fuga, a emoção.

Quero uma boba que não se lembre de cobrar
de mim, diários testemunhos de macheza
e que preserve, desse modo,
minha inteireza.

Quero uma boba tão bobamente sábia
que ao fazer amor,
à entrega se entregue, bobamente,
à bobice do amor, só pelo amor.

Quero uma boba tão boba, afinal,
como esse bobo que eu mesmo sou
para viver a bobeira, imortal,
de um doce, bobo.

E quisera eu ser sempre bobo para procurar uma boba que me faça mais bobo assim ...

3.9.10

Para pensar

Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios.

Martin Luther King