Xadrez
O xadrez é um jogo fascinante.
Rainhas, torres, bispos, peões, cavalos, todos se movem, coordenadamente, seguindo os passos da mesa, procurando caminhos secretos e escondidos, a fim de achar em si um único objetivo: encurralar o rei, colocando-o em xeque, ou aniquilá-lo, no caso do xeque-mate, destruindo por completo suas chances de escapar de tal armadilha.
E aqueles dois, no cair da noite, faziam exatamente isso: jogavam xadrez, até mesmo com o relógio que marcava as horas e passos e que dava o tom daquele jogo.
- Clic!
A torre move-se perigosamente em direção ao bispo adversário.
Torres, no entender da dialética que rege o jogo, são princesas, que, encarceradas, não tem outro remédio senão andar, para a frente ou para os lados, em busca de salvação. Bispos, por sua vez, são peças ariscas, ora pendendo de um lado, ora do outro - andando sempre em diagonal, à procura do momento certo para atacar.
- Clic!
Um peão se move à frente.
Peça desnecessária, o peão apenas morre por seu líder. Não sabe porque está lá, ou o que virá a fazer depois; apenas move-se, uma casa por vez, procurando apenas um caminho para vencer - e talvez escapar de sua sina de peão.
- Clic!
O cavalo se move.
Garboso, imponente, age na socapa, atacando de frente, para ir depois de lado. Corre pelos prados, ataca os flancos, abrindo caminhos em seu movimento, estranho, porém eficaz.
- Clic!
O jogo torna-se tenso, frenético, compulsivo.
- Clic!
Move-se a rainha, a peça mais importante do jogo, aquela que pode destruir o rei se atacá-lo às suas costas. Já foi um vizir, o amigo do rei, conselheiro talvez, mas é a mesma coisa: é a eminência parda, aquele que se mexe em todas as direções, de todas as formas, pronto para destruir, e induzir ao erro, e proteger o rei - ou matá-lo, talvez.
- Clic!
Mais tensão se sente no ar.
- Clic!
Os jogadores suam, desesperados, à procura de um movimento fatal.
Peças vão sendo retiradas, uma a uma, do jogo, ora um bispo morto em combate, ora uma torre destruída, ou mesmo um peão que se foi, sem saudades.
- Clic!
Movimentos anunciam que o jogo está por terminar.
- Clic!
Mas, uma dúvida: por que esse jogo seria tão importante?
- Clic!
Por que uma simples partida de xadrez ...
- Clic!
... valeria tanto ?
- Clic!
Ou melhor: por que tanto ...
- Clic!
... por tão pouco?
...
Um erro, um descuido, e um deles comete um erro primário, colocando o rei à vista. De um lado, um bispo, do outro, uma torre, e a rainha por perto, a lhe ameaçar.
- Xeque !
- Ah, não ...
Tira do bolso uma arma, e aponta ao outro.
- O que é isso, meu velho? Bebeu? O que ...
- Clic.
E a arma cuspiu.
E o corpo caiu.
...
Olhou em volta.
Um sorriso sarcástico lhe veio aos lábios. Enfim, tudo se acabara, “consumatum est”, como era dito nas aulas de latim.
E, chegando-se ao outro, que jazia no chão tendo ainda nas mãos o rei branco capturado pouco antes, fechou a fatura, com chave de ouro:
- Xeque-mate.
FPS, 04/06/2007, 22:50