28.4.07

Poesia

Desespero

 

Qual o motivo

que leva os bravos e fortes do mundo

a ter tanto medo ?

 

Qual a origem

do desespero

que aflige os homens de bem ?

 

O que leva esses homens

a suar tão frio,

a ter calafrios,

sentir-se cansados,

ou mesmo esgotados,

sofrer devaneios,

entrar em colapso

- meu Deus, o que faço ? -

a espera de algo

- que seja - um milagre,

algo de querido,

talvez tão sofrido,

que acabe com tudo

e devolva a paz ?

 

Que coisa acontece

que faz com que o mundo

torne-se um tufão,

que torna a todos

crianças sem dono,

sem pais, nem amigos,

sem nenhum consolo,

sem nenhum caminho,

levados apenas

por algo divino

chamado destino ?

 

 

Respostas ? Não existem.

 

Perguntas ? Persistem.

 

Porque, não sei.

 

Conclusões, talvez apenas uma:

não há melhor fim para o desespero

senão no refúgio de uma solução.

 

 

FPS, 12/10/95, 16:25

24.4.07

Adolescência - uma pequena discussão ...

Eu me lembro muito bem ...
 
Nos meus tempos de adolescente eu era um garoto modelo para os pais, mas um porre para os da minha idade - e sofri muito com isso, principalmente dos 12 aos 14 anos, época em que não se sabia ainda o que era 'bullying' e na qual o 'house' ganhava espaço, nos bailinhos e discotecas cidade afora.
 
Lembro que o pessoal fazia horrores nas viagens do colégio, e eu ficava dentro do quarto assistindo TV e jogando videogame - mesmo na Igreja, onde supostamente se deveria ser mais sério, sempre havia o temido grupo da 'zoeira', que acordava todo mundo nos acampamentos e que invariavelmente se esborrachava no fundão do salão social no culto de encerramento dos trabalhos, num comportamento condenável naquela época mas que muitos de cabeça pequena achavam 'mó legal, meu'.
 
Mas o tempo, ah, o tempo, esse passa rápido ... e é muito vingativo, por sinal.
 
Hoje eu vejo os mesmos que 'zoavam' como loucos naquela época tentando ser modelos responsáveis para seus filhos e tendo espanto com o que eles fazem, preocupados com Orkut e outros recursos de informática que não conseguem controlar (e que, detalhe dos detalhes, começaram com o inocentíssimo Atari e o PC-XT da nossa adolescência), e ficando apatetados, sem saber o que fazer diante de tanta coisa que acontece ao mesmo tempo para nossos filhos, ou sobrinhos e etc.
 
É, Belchior estava certo, mesmo ... ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais.
 

 
E você, de todas as idades, se lembra do que fazia nos seus tempos de adolescente? E seus filhos, o que fazem hoje? E você, que é 'teen', adolescente e etc., o que pensa de tudo isso? Comente, o Olho Clínico está aqui para isso ...

23.4.07

E mais visita do Papa ...

O Alvaro Domingues, do Sombras e Sonhos (cujo link você encontra ao lado, na seção 'Links literários' deste blog) trouxe uma ótima contribuição à visita de Bento, o XVI, à Terra Brasilis.
 
Segue logo abaixo o que ele acha de tudo isso:
 

Dialogo inventado sobre a visita do Papa
  
 -- Querida, convidei o Papa pro meu aniversário.
 -- O Papa? Não acha que exagerou?
 -- Claro que não! Ele disse que quer estar junto de nós, o povo.
 -- E ele vem?
 -- Ele garantiu! Só que ele contou prum monte de gente. E e agora não vão lhe dar sossego. Montaram esquema de segurança e tudo. Tá saindo até no jornal. E tão dizendo que ele veio visitar todo mundo.
 -- E ele, o que diz de tudo isso?
 -- Ele ficou sem jeito de dizer que não era isso que eles estavam pensando e vai fazer um roteiro de visitas, rezar umas missas, falar com umas autoridades.
 -- Desse jeito ele não vai vir aqui em casa...
 -- Eu não disse que ele garantiu que vem? Disse que não dispensa um bom chop. E até tá trançando uns pauzinhos pra ser feriado, que daí fica mais fácil!
 -- Fica nada! É capaz daquelas autoridades todas quererem filar nosso chop!
 -- Que nada! O Papa disse que empresta a guarda suiça e só vão entrar os convidados!
 -- Tá bom! Mas vê se compra um chop de marca boa! E fala que tem que vir cedo que o Papa não vai perdoar se a entrega atrasar!
 

Alvaro Domingues
 

20.4.07

Uma pesquisa rápida

Frei Galvão vai virar santo em 11 de maio - mas se criam um feriado especificamente para que Bento XVI faça sua canonização bem que poderiam agir pela igualdade de direitos e dar o Dia da Reforma de lambuja, afinal de contas os protestantes também tem direito a um descanso 'sagrado' ...
 
E você, que acessa esse site, gostaria de ver algum dia virar feriado por sua causa? Clique em "Comentários", logo abaixo, e deixe sua opinião sobre o assunto.

19.4.07




Brincadeira da batata

Era uma batata,
batata, tatinha,
uma batatinha.

E tinha uma bata,
batata, uma tata,
uma tatatinha,
que a bata tinha.

Tal batata tinha uma bata.

Uma bata tinha, a Tata-tatinha.

Tinha.

Pois ficou sem bata,
a Tata, tadinha,
a batatatinha.

Tadinha ...


FPS, 17/04, 15:26

17.4.07

Para pensar

Dois pontos de vista
 
Pergunta: Porque a venda de armas pode ser proibida depois de um massacre como o dos 32 americanos mortos no Estado de Virginia e não pode ser proibida no Brasil por um simples referendo?
 
Resposta do praticante de tiro:
- Porque tudo depende de quem está portando a arma - se o seu filho, ou o meu ...
 
Resposta do defensor dos Direitos Humanos:
- Porque tudo depende de quem está levando o tiro - se o seu filho, ou o meu ...

FPS, 17/04, 15:34

10.4.07

Prosa (pequena)

- Ela gostou?
 
A pergunta ecoava naquele ambiente, sem resposta; era de tremendo mau gosto, dadas as circunstâncias, mas não deixava de ser surreal vinda de um estranho ao que estava se passando.
 
Poderíamos ficar horas naquele diz-que-me-diz, no vai-e-vem do que se seguira antes e depois do expediente e da consumação - e era realmente muito estranho o que se passara poucas horas antes, quando o fato ocorrera; mas não deixava de ser esquisito, já que o que ela sentira era espanto a princípio, calafrios, uma sede e uma fome agudas de um sei-lá-o-quê e finalmente uma tranquilidade, seguida de gosto obscuro e um sentimento, nada mais que um sentimento, que não sabia de fato se era bom ou se era ruim.
 
Súbito, novamente a pergunta:
 
- Mas ela gostou?
 
E a resposta:
 
- Não sei, nem tenho idéia de como é o sabor de um sorvete de jiló ...

FPS, 10/04/2007, 15:54

9.4.07

Poesia: Sexta carnívora



Sexta carnívora
Na Sexta, dita da Paixão,
a morte de Cristo é lembrada,
e muitos tentam, em vão,
crucificar-se tardiamente,
como se fosse possível
suportar a dor
que ele sentiu.
Mas que mãe, repito, que mãe?
Que mãe não seria terna
com o filho que passou a semana
procurando por um bife,
umzinho, suculento qualquer,
e ficou a base de frango, ou peixe, ou sei lá mais o que?
Ainda mais quando o gajo, gaiato,
nem nisso acredita,
como se comer carne
ficasse mal na fita?
Ora, dane-se a convenção,
e que venha o bife gostoso
com o camarão dengoso
da mãe que o faz com carinho,
com gosto de casa, gostinho
de quero mais um, e mais um ...
E que todos comam com gosto,
e lembrem que a morte, de fato,
foi o selo, o grande contrato,
que deu aos que crêem a vida.
Sim, porque no final a certeza,
melhor que bife a milanesa:
domingo a vitória é dele,
lembramos ao redor da mesa.
Ele vive.
Sim, ele vive!!!

FPS, 09/04, 16:25

6.4.07

Poesia, bem antiga ...

O soldado

 

Compulsão e choro e estafa cansaço e sono.

Dureza da vida que pulsa com um novo dono.

Algo que nos traz fogo brando, de tal desamor.

Cauteriza a faca e afunda num ser ditador.

 

As ordens que me são mandadas eu faço eu cumpro.

Aquilo que me pedem digo procuro executo.

O que não sei peço que expliquem a mim com certeza.

Não valeu a tal longa espera por uma grandeza.

 

Me falta coragem e sobra cansaço no corpo.

Não tenho vivência de dor como a que agora eu sinto.

Não posso dizer que me iludo com tudo o que vejo.

Não posso porque já não vejo e p´ra mim é qu´eu minto.

 

Eu minto para minha vida achando que o belo

Se esconde por trás das pessoas que vejo e me calo.

Se esconde por trás dos bons sentimentos que carrego.

Se acalma e só então é que eu me sinto, me viro e então falo.

 

Eu quero sentir essa brisa perto do meu rosto.

Eu quero viver a emoção de ser melhor querido.

Eu quero sentir a bondade na vida que espero.

Eu quero com toda certeza ter mais de um amigo.

 

Eu seco espero a hora e o dia que vem

Onde eu certamente possa ser mais que um joão-ninguém.

Eu vejo na vida essa vida que espera e flutua

De um homem que desce, que corre, que ama, que sua.

 

Eu quero estar vivo para ver o tempo passar.

E só nessa hora verei coração sossegar.

 

Pois é na certeza de ter esse grande caminho

Que eu me levanto e posso então andar sozinho.

 

Final da história sentindo coração pulsar

O mundo está salvo - e eu posso então descansar.

 

Feliz é o homem que agora então pode me ouvir

E ver as verdades que a vida me fez bem sentir.

 

Espero o dia que chega, e o dia que vai

Para acabar com o sofrimento que em mim sempre cai.

 

Pois esta é a grande virtude no final da guerra:

poder assim, firme, encontrar ...

 

 

 

 

... a tal paz, bem sincera.

 

 

 

FPS, 18/10/1996, 13:24